Marca do Crea-PR para impressão
Disponível em <https://www.crea-pr.org.br/ws/2016/10/debate-sobre-fraturamento-hidraulico-lotou-plenario-do-crea-pr/>.
Acesso em 29/03/2024 às 12h11.

Debate sobre fraturamento hidráulico lotou plenário do Crea-PR

6 de outubro de 2016, às 16h04 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

Realizado pela Associação Profissional dos Geólogos do Paraná (Agepar), com apoio do Crea-PR, aconteceu nesta quarta (05) um evento de caráter técnico-científico sobre o Fraturamento Hidráulico (Fracking) na indústria do petróleo. Com o plenário do Crea-PR lotado, o evento contou ainda com apoio do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), através da Câmara Técnica Ciências da Terra, daAgência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e daSociedade Brasileira de Geologia – SBG, através do Núcleo Paraná.

O conselheiro do Crea-PR e coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Química, Geologia e Minas (CEEQGEM), engenheiro químico Ivo Brand, em nome do presidente do Crea-PR, engenheiro civil Joel Krüger, deu as boas vindas e afirmou o apoio da Câmara “ao debate de um assunto tão importante, que está sendo transmitido para a cidade de Toledo, região que tem a possibilidade de utilização do método de fraturamento hidráulico”, diz. O presidente do IEP, Nelson Luiz Gomes, esteve presente e comentou que “debater o fracking é muito importante para o trabalho de nossos técnicos, visto que o método tem prós e contras e é preciso achar um denominador comum que beneficie a sociedade, pensando no desenvolvimento, na natureza e no futuro”.

Palestras

717x593-images-img_0775

Os palestrantes convidados foram os geólogos Marina Abelha (ANP), Paulo C. Soares (UFPR) e Dr. Luiz Fernando Scheibe (UFSC). Marina Abelha explicou o que é o gás de folhelho, presente nas rochas a grandes profundidades e que é extraído para a produção de energia. Para ela, as principais vantagens do uso do fracking para essa extração “são o volume desse gás existente nas rochas e a demanda por energia, pois há regiões que necessitam e não têm a produção de gás”, diz a pesquisadora. Através de dados de estudos do solo ela explica que há possibilidade do uso do fraturamento hidráulico no Brasil nas Bacias do Parnaíba, Parecis, São Francisco e Paraná. Porém, no geral, há pouca perfuração de poços nessas regiões, insuficiente para saber com clareza quais os recursos gasosos nas Bacias. Nos Estados Unidos, por exemplo, o índice de perfuração de poços é muito alto, com uso do método desde o início dos anos 2000. No Paraná existem locais onde há possibilidade de uso, mas que ainda não atingiram a maturidade de solo necessária.

717x478-images-img_0781

O geólogo Paulo C. Soares explicou como funciona a técnica de perfuração seguida de fraturamento hidráulico, utilizada para a produção de hidrocarbonetos como petróleo e gás natural, a partir de rochas com baixíssima permeabilidade, denominadas de reservatórios não convencionais. “As rochas já são naturalmente fraturadas, portanto o fracking não é uma explosão nas rochas, mas sim a injeção de água para a expansão dessas fraturas, para que os recursos naturais possam ser extraídos”, explica. Soares falou ainda sobre a incidência de possíveis terremotos e a pesquisa de sua ligação com o uso da técnica, e que a água nas fraturas das rochas pode amenizar o impacto destes fenômenos. Quanto à utilização de grande volume de água, em regiões como o sul do Brasil, onde o recurso está disponível, não é um problema, mas que isto precisa ser analisado em cada região. Sobre a possibilidade de contaminação de solo, “pode acontecer se o método for feito em profundidade menor e não for controlado, porém, no Paraná seria realizado a 3500 metros, estando a mais de dois mil metros dos aquíferos”, comenta o geólogo.

717x630-images-img_0772

O palestrante Dr. Luiz Fernando falou dos potenciais impactos às águas subterrâneas e superficiais da explotação de gás de folhelho por fraturamento hidráulico, quis são as possibilidades para o Brasil e como está o debate acerca do método. Para ele, uma das “preocupações são os grandes volumes de água necessários, sendo que desse volume 40% retornam à superfície, poluídos por hidrocarbonetos e outros compostos e metais presentes na rocha e nos próprios aditivos químicos utilizados, exigindo técnicas de purificação e de descarte, incluindo nova injeção na rocha, que pode causar terremotos”, diz Scheibe, conforme fontes apresentadas. Este é um desfio e uma oportunidade para as empresas que trabalham com a manipulação da água. Ele explica ainda que há necessidade de mais estudos de impacto ambiental nas áreas onde a ANP poderá indicar a possibilidade de fraturamento hidráulico. Mostrando a situação no Brasil, ele citou processos que suspenderam os efeitos de concessões da ANP nas Bacias do Paraná, Piauí, Recôncavo Bahiano e Acre. Ele comentou ainda sobre a venda e participação de empresas estrangeiras na exploração de recursos naturais no Brasil, em detrimento do trabalho desenvolvido pela Petrobrás.

Debate

717x478-images-img_0770

Ao fim das palestras os participantes tiveram a oportunidade de fazer perguntas e questionar os palestrantes sobre seu posicionamento. Estiveram presentes profissionais engenheiros, das geociências, estudantes e representantes de organizações não governamentais, o que contribuiu para a promoção de um debate com muitas opiniões e conhecimentos diferentes.

Saiba mais

Resolução ANP 21/2014

Com a previsão da possibilidade de uso do método de fraturamento hidráulico no Brasil, a Agência Nacional do Petróleo publicou a Resolução 21/2014, que regulamenta as atividades de perfuração seguida de fraturamento hidráulico em reservatório não convencional, com o objetivo de estabelecer requisitos para a exploração de gás não convencional dentro de parâmetros de segurança operacional que assegurem a proteção à saúde humana e ao meio ambiente. O documento tem como base as regulamentações americana e britânica e recomendações da União Europeia para esta exploração.

Com esta publicação as empresas ficam obrigadas a cumprir diversas exigências específicas para a realização deste tipo de operação.  Para que a ANP aprove a perfuração e o fraturamento hidráulico em reservatório não convencional também será necessária a comprovação, por meio de testes, modelagens e estudos, que a atividade se dará sem prejuízo ao meio ambiente e à saúde humana.

Acesse aqui a Resolução 21/2014.

Relatório: Aproveitamento de Hidrocarbonetos em Reservatórios Não Convencionais no Brasil

O Relatório é resultado de trabalho interministerial realizado no âmbito do Comitê Temático de Meio Ambiente do Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural). O objetivo é disseminar o conhecimento e contribuir para a superação dos conflitos relacionados ao assunto, reunindo informações aprofundadas sobre a produção de petróleo por métodos não convencionais. O trabalho visa assegurar que o aproveitamento de hidrocarbonetos em reservatórios não convencionais no Brasil – quando e se ocorrer – se realize com a necessária transparência, com a garantia da segurança operacional, da proteção à saúde humana e da preservação do meio ambiente.

O relatório compila uma base consistente de informações da literatura sobre experiências internacionais, incluindo impactos documentados, medidas mitigadoras sugeridas, medidas regulatórias adotadas e não pretende avalizar ou estimular a imediata exploração de recursos em reservatórios não convencionais no Brasil. Além da pesquisa direta na literatura, o documento baseou-se no Shale Gas Study – Final Report, elaborado para a ANP, em 2015, pela Amec Foster Wheeler Environment & Infrastructure UK Limited, no âmbito de cooperação com o Reino Unido.

Acesse aqui o relatório.

(Débora Pereira – ACS Crea-PR)