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Acesso em 19/04/2024 às 15h32.

‘Sem política de investimentos no trânsito, em 10 anos teremos problemas sérios’, avalia especialista em Infraestrutura e Transportes

No mês da Campanha Maio Amarelo, especialista da área, diretor do Crea-PR, analisa possibilidades para o futuro do trânsito no Brasil e no Paraná

7 de maio de 2020, às 20h23 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

No mês voltado à segurança no trânsito, diversas ações de conscientização, de forma digital, serão realizadas em cidades paranaenses para conscientizar motoristas e pedestres sobre a importância do trânsito seguro para todos.

De acordo com levantamento do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), o número de veículos do Estado aumentou 4% de fevereiro de 2019 a fevereiro de 2020, um salto de 7.237.435 para 7.496.666. Neste universo, os três tipos de veículos mais utilizados no Paraná são automóveis (4.377.981), motocicletas (1.092.305) e caminhonetes (652.694).

Cascavel, por exemplo, mostra um aumento de veículos nas ruas: atualmente a cidade conta com uma frota de 239.439 veículos entre automóveis, caminhões, motocicletas e outros, e em 2019 esse número era de 238.367 veículos, representando um aumento de 0,5%. Já Guarapuava representa ainda mais esse aumento, acima da média do Estado. De 2019 para 2020 a frota cresceu 5%, passando de 107.763 para 112.866 veículos.

Diretor do Crea-PR, Engenheiro Civil e especialista em Infraestrutura e Transportes, Rafael Fontes Moretto

Esse aumento da frota de automóveis nas ruas, ano após ano, principalmente nas grandes cidades, para o diretor do Crea-PR, Engenheiro Civil e Especialista em Infraestrutura e Transportes, Rafael Fontes Moretto, fará com que em breve o trânsito atinja sua capacidade máxima.  “Sem política de investimentos no trânsito, em 10 anos teremos problemas sérios. É necessário e urgente o investimento em outros meios de transporte, como as modalidades ferroviária, metroviária e hidroviária, para que a sociedade não fique tão dependente somente do sistema rodoviário, como ocorre atualmente, tanto para escoamento de produção quanto para transporte de pessoas. Os problemas que ocorrem nas cidades de grande porte já começam a surgir nas cidades de médio porte”, avalia o diretor do Crea-PR.

Um dos impactos diretos da utilização intensa das rodovias é o número de acidentes. Em 2019, a Polícia Rodoviária Estadual registrou 9.896 acidentes, em sua maioria ocasionados por colisão traseira (1.796), abalroamento lateral (1.513), choque (1.413) e abalroamento transversal (1.229). Dos acidentes registrados no ano passado, resultaram 6.841 vítimas feridas e 699 óbitos.

“Pode-se afirmar que 90% dos acidentes são ocasionados por fator humano, sendo grande parte por imprudência, mas outros fatores são considerados, como falta de manutenção da rodovia ou falta de manutenção do veículo. Por isso, é preciso uma mudança de cultura das pessoas e investimentos em estruturas de trânsito alternativas”, afirma Moretto.

Entre as sugestões de investimento apontadas pelo especialista em Infraestrutura e Transportes constam:

– construção de centros de distribuição longe das grandes cidades;

– foco em outras malhas, como ferrovias, metrovias, hidrovias e ciclovias;

– cumprimento das projeções de pavimentação anunciadas pelo poder público;

– melhoramento das vias já existentes, com ampliação da capacidade e obras especiais (viadutos, pontes, túneis) para melhorar a fluidez.

Um dos pontos principais ressaltados pelo Engenheiro é o investimento em transporte coletivo e ciclovias nas cidades, como uma forma de estimular a construção de uma cultura social mais sustentável em termos de trânsito.

Transporte público em Guarapuava

No Paraná, atualmente, estão registrados 40.504 ônibus e 23.645 micro-ônibus, e em Guarapuava 470 e 604 respectivamente, números muito baixos quando comparados à frota de veículos particulares.

“A pandemia que estamos vivendo reforça ainda mais o entendimento de que é necessário reduzir o número de veículos. Guarapuava ainda é um município privilegiado, pois apresenta muito espaço para se criar novos corredores, porém, agora é o momento para se pensar no longo prazo, evitando chegar a uma saturação do sistema”, afirma o Engenheiro Civil, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Guarapuava (AEAG), Eduardo Ribeiro.

Transporte coletivo em Cascavel

O sistema de transporte coletivo urbano em Cascavel conta hoje com uma frota de 135 ônibus que opera no sistema integrado e movimentam cerca de 70 mil passageiros em dias úteis (dados antes da pandemia).

Para incentivar o motorista a trocar o automóvel pelo transporte público, além do sistema  ter que ser considerado pelo usuário seguro e eficiente, o passageiro também exige conforto e segurança nos pontos de ônibus. Em Cascavel, após anos de espera, essa exigência enfim será atendida. Começam a ser instalados na cidade novos abrigos de ônibus, que valorizam a segurança dos passageiros e a acessibilidade dos usuários.

Ponto de ônibus em Cascavel. Foto: Secom Cascavel

Ao todo, serão instalados 874 novos abrigos em Cascavel, que conta com mais de 328 mil habitantes. Os pontos seguirão o padrão das cores dos Terminais de Transbordo para facilitar a assimilação das linhas.

Segundo o gerente regional do Crea-PR, Engenheiro Civil Geraldo Canci, os novos abrigos de Cascavel atendem importantes reivindicações do Crea-PR no que se refere à segurança, ao conforto e à acessibilidade. “Os abrigos para os pontos de parada de ônibus foram projetados e planejados para atender todas as pessoas, pensando no futuro e no crescimento das cidades. Assim, Cascavel se mostra mais uma vez à frente com exemplos práticos de planejamento urbano que atendem todos os cidadãos e que fazem parte das reivindicações do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia”, observa.

Canci lembra ainda que o Crea-PR, em suas constantes fiscalizações, orienta os órgãos públicos para que todas as obras e os mobiliários públicos atendam a NBR 9050/2015, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que dispõem sobre acessibilidade. Ele também reconhece o trabalho dos Engenheiros que fazem parte do quadro técnico do município e que realizam esses planejamentos “pensando na cidade do futuro, incentivando boas práticas para a mobilidade urbana”, finaliza.

Maio Amarelo

A Campanha Maio Amarelo teve início em 2010 a partir da Assembleia-Geral das Nações Unidas que editou uma resolução definindo o período de 2011 a 2020 como a década de ações para a segurança do trânsito. Desde então, atos de conscientização são realizados em todo o mundo, objetivando chamar a atenção dos motoristas e , consequentemente, diminuir os acidentes de trânsito.

Com o tema “Perceba o risco. Proteja a vida”, este ano, as ações presenciais da campanha foram adiadas para o mês de setembro, por decisão da coordenação do Movimento Maio Amarelo, com base nas orientações do Ministério da Saúde referentes à Covid-19.

De acordo com os organizadores, realizar o Maio Amarelo com a mobilização que tradicionalmente ocorre – caminhadas, blitz e palestras – seria inconcebível nesse momento de isolamento social. No entanto, para o mês não ‘passar em branco’ materiais de conscientização estão sendo desenvolvidos para as mídias sociais, produzidos em home-office.

Foto de abertura: Arquivo Correio do Cidadão


Comentários

  1. João Baptista Montanari says:

    Matéria importantíssima. Existe uma grande dificuldade para administrar os conflitos relacionados ao trânsito. A maioria das cidades não se prepararam para receber um volume tão grande de veículos. são carros, motocicletas, bicicletas, veículos pesados que precisam fazer entregas nos comércios. Tem também os pedestres e ainda, veículos de tração humana ou animal. Todos disputando o mesmo espaço. São poucas cidades que possuem uma sinalização de trânsito adequada, com faixas de pedestres e ciclovias. E ainda quando tem, falta orientação para que motoristas, pedestres e ciclistas respeitem a sinalização. Atravessar as ruas, mesmo na faixa de pedestres é um desafio para qualquer pessoa. mais ainda para aqueles portadores de necessidades especiais. Tomo como exemplo minha cidade, onde a maioria dos motoristas veem as faixas de pedestres como enfeites. Não pude deixar de observar no próprio artigo aqui exposto, a imagem do ponto de ônibus em Cascavel. basta analisar a imagem para perceber que foi deixado de lado a sinalização podo tátil, bem como o espaço na calçada destinado à cadeirantes. Um flagrante que comprova que não basta apenas fazer alguma coisa, mas fazer de forma correta.

  2. Trajano Gracia Neto says:

    Curitiba, Capital do Estado do Paraná, República Federativa do Brasil, é a única grande cidade brasileira que não possui metrô. Os trechos ferroviários em seu quadro esperam por isso, assim como o VLT.

  3. Alfredo Smalarz says:

    Gostaria que a cartilha do maio amarelo, contivesse também os sinais de trânsito, com ênfase para os sinais que foram criados recentemente e também fossem incluídos os telefones relativos ao trânsito, como polícia rodoviária, bombeiros, hospitais socorristas, mecânica no trecho, entre outros. Assim a cartilha fica permanente com quem recebe, pois tem informações pra sempre.
    Gostaria que fossem tomadas providências para que os motoqueiros e motociclistas obedecessem os decibéis regulamentados na lei. Constar na cartilha a graduação máxima dos decibéis.
    Enfim o importante é que a cartilha não seja descartável.
    Grato

  4. MARCÍLIO MARTINS ARAÚJO says:

    Em meio a plena pandemia de Covid-19, não se pode pensar em implementar tais medidas, e incentivar o uso dos transporte públicos, evitando assim as aglomerações e lotações que impeçam o distanciamento necessário. Mas por outro lado, porque não pensar em medidas para serem implementadas após esse período. Já se pensou que os picos de utilização do transporte público, só ocorre porque implementamos horários concentrados de inicio de trabalho e de aulas, sempre as 08:00 horas, e os mesmos horários de saídas, o que impede que se distancie esses horários, ainda mais com a possibilidade de atendimento “on line”? O transporte público será utilizado desde que se tenha conforto, rapidez, segurança, preço acessivel e agora principalmente limpeza. Se não se tornar atrativo e opção segura de transporte, dificilmente essa modalidade de transporte será a opção dos que tem seu carro. Precisa tornar atrativo a modalidade de transporte público, e ao mesmo tempo política de desincentivar a utilização da utilização do veículo, como pagamento de estacionamento, rodízios de placas, entre outras, deverão ser planejadas e implementadas.

  5. Lícia Depetris says:

    O compartilhamento de veículos e a mudança, já em curso, no uso de transporte alternativo farão naturalmente com que o trânsito só melhore nas grandes cidades mundiais. Quem viver, verá!

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