Ensino da engenharia discutido em seminário promovido pela Fisenge
29 de setembro de 2015, às 19h15 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
A Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e a Escola Politécnica da UFRJ, promoveram no dias 25 e 26 de setembro, o seminário “Ensino da Engenharia no Século XXI”, no Rio de Janeiro. A mercantilização do ensino e a qualidade da formação foram os principais destaques na mesa de abertura. “Algumas questões me preocupam como o conteúdo curricular, pois temos de pensar o mundo como sede de transformações tecnológicas em velocidade jamais vista; a excessiva mercantilização do ensino da engenharia; e as universidades que, hoje, estão muito fechadas em termos de seleção de professores. Deveria haver um balanceamento entre profissionais professores que tenham exclusiva vida acadêmica e profissionais competentes da engenharia”, afirmou o presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, Pedro Celestino. Hoje, nas universidades públicas o ingresso na vida acadêmica depende de concurso público balizado por titulação.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-PR), engenheiro civil Joel Krüger apontou a cobrança pelo excesso de titulação sem a devida experiência. “Muitos devem conhecer a expressão da ‘lattescracia’, ou seja, se o profissional tem o título, ele tem valor, mas talvez nunca tenha executado uma obra de engenharia, ou algum projeto do exercício profissional. Ninguém é contra o título, mas também é importante a experiência profissional”, ressaltou Krüger. Ele também destacou as transformações no perfil dos estudantes da atualidade. “Aquele conhecimento que nós passávamos, o estudante recebe, hoje, de outra maneira. Existem estudos científicos, que apontam que o professor tem de 6 a 8 minutos para encantar o seu aluno. Se nesse intervalo de tempo não encantar, já perdeu a atenção do estudante. Esse período é a lógica dos videogames, exatamente o tempo de mudança de fase”, detalhou Krüger que também é professor há 32 anos e coordenador do curso de engenharia civil da PUCPR há oito.
Já o professor e coordenador da Poli UFRJ, João Carlos Basílio falou sobre o equilíbrio entre pesquisa e ensino. ” As duas atividades não podem ser separadas, no sentido de que ao fazer pesquisa eu me torno um melhor professor. Sobre a entrada de profissionais do mercado na academia, hoje , a universidade quer pesquisadores e a entrada de professores que vêm do mercado é bastante difícil. Isso porque existe uma lei que engessa essa possibilidade, pois a entrada é via concurso público. O que fazemos para trazer profissionais é por meio dos cursos de extensão”, assinalou Basílio.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Olímpio Alves dos Santos problematizou a função social da engenharia. “Abraçamos uma profissão, porque entendemos que nossa formação pode intervir na natureza e na organização do trabalho. O que sentimos é que, praticamente, nosso conhecimento é para produzir mercadoria e o próprio ensino virou mercadoria para quem alguém acumule. Qual é a real função de nossa profissão? Queremos construir país soberano e bem-estar para todas as pessoas”, ressaltou Olímpio. O presidente da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), Clovis Nascimento ressaltou a preocupação com a mercantilização do ensino. “A formação tem que ter foco na sociedade e no cidadão. A mercantilização é um processo histórico no Brasil como, por exemplo, a construção de nossas cidades, que atende a uma lógica mercantil, e não cidadã”, enfatizou Clovis.
O seminário contou com a presença de mais 100 participantes, além de participação virtual pelo canal do YouTube da Federação.
(Com informações da assessoria de comunicação da Fisenge. Fotos: Pablo Vergara)
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