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Acesso em 28/03/2024 às 20h03.

Pandemia exige maior investimento em prevenção de acidentes e segurança do trabalho

De acordo com representantes do Crea-PR, cenário pandêmico deixou trabalhadores exautos e mais vulneráveis a acidentes

9 de abril de 2021, às 13h16 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

Durante o mês de abril, órgãos públicos e instituições engajadas nas questões relativas aos acidentes de trabalho aderem à campanha Abril Verde, uma forma de promover a conscientização sobre a importância da segurança e da saúde do trabalhador brasileiro. O mês foi escolhido porque o dia 28 é dedicado à memória das vítimas de acidentes e de doenças do trabalho. Em 1969, uma explosão de uma mina da cidade de Farmington, na Vírginia, Estados Unidos, matou 78 trabalhadores, caracterizando o episódio como um dos maiores e mais conhecidos acidentes trabalhistas da humanidade.

Por isso, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) apoia a campanha com o objetivo de mobilizar a sociedade para a prevenção das doenças decorrentes do trabalho, bem como valorizar a atividade dos profissionais de Engenharia de Segurança do Trabalho. A iniciativa é ainda mais importante no momento pandêmico vivido em todo o mundo. De acordo com Engenheiros de Segurança do Trabalho ouvidos pelo Crea-PR, a pandemia tem deixado trabalhadores exaustos, aumentando, assim, o risco de acidentes. Em virtude disso, o investimento em ações e atividades relacionadas à segurança do trabalho são indispensáveis. “Estamos no pior momento  da pandemia. As pessoas estão cansadas. No ano passado, algumas pessoas ainda estavam trabalhando de casa. Atualmente, a maioria está realizando as atividades normalmente, mas totalmente esgotada psicologicamente e, o pior, com medo de ser contaminado. Isso diminui o foco do trabalhador, aumentando o risco. A pandemia trouxe malefícios na saúde física e mental”, avalia a Conselheira do Crea-PR e Engenheira de Segurança do Trabalho, Elizandra Sartori.

Apesar disso, a pandemia gerou um hábito que o trabalhador não tinha anteriormente: o uso de equipamentos de proteção individual (EPI). “Esse cenário construiu a conscientização sobre a necessidade desses equipamentos. Infelizmente, algumas pessoas ainda são resistentes quanto ao uso, apesar de obrigatório, mas podemos dizer que a cultura já foi criada e que nada será como antes”, aponta Elizandra.

O Engenheiro de Segurança do Trabalho, Flávio Freitas Dinão, lembra que o uso do EPI é uma questão cultural e por isso as campanhas nas empresas são tão valiosas. “O trabalhador costuma dar mais atenção à necessidade de uso de EPI se ele entende o que ela ganha com isso. Ou, muitas vezes, o que ele não perde. O uso do equipamento não é a garantia de que nada acontecerá a ela no ambiente de trabalho, mas é uma proteção que aumenta muito suas chances de não ter lesões mais sérias. Precisamos sempre exigir seu uso, até que se torne parte de nossa cultura, como aconteceu com o cinto de segurança”.

Outro fator positivo foi a valorização do profissional de Engenharia de Segurança do Trabalho. Empresas, hospitais e órgãos públicos, por exemplo, tiveram que elaborar planos de segurança para minimizar riscos e gerar ambientes seguros para os trabalhadores. “Observo que muitos profissionais da nossa área passaram a atuar em locais onde não havia acesso antes. Percebi também que empresas não só ligadas à saúde precisaram avaliar possibilidades de contaminação, atividades que só podem ser exercidas por um profissional habilitado e capacitado”, cita.

Por outro lado, muitos profissionais deixaram de atuar em atividades habituais, exigidas pela legislação brasileira em segurança e saúde no trabalho. Em março do ano passado, o Governo Federal publicou a Medida Provisória nº 927, na qual suspendeu a obrigatoriedade da realização de exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais. Também foram suspensos, na ocasião, treinamentos periódicos de trabalhadores previstos em normas regulamentadoras de segurança e saúde do trabalho.

Levantamento realizado pelo Crea-PR comprova o impacto: de 2017 até 2019, o mercado de Engenharia de Segurança do Trabalho vinha numa linha ascendente de emissão de ARTs (Anotação de Responsabilidade Técnica) no Paraná. Em 2018, o crescimento foi de 15% em relação ao ano anterior. No ano seguinte, o aumento registrado foi de 11%. Já em 2020, houve redução no número de ARTs: foram emitidas 18.383 contra 21.858 de 2019. A queda foi de 15%.A ART identifica de forma legal, objetiva e rastreável, que a obra e/ou serviço foi planejado e executado por um ou mais profissionais legalmente habilitados pelo Crea, e que cabe exclusivamente a este, ou a estes profissionais a responsabilidade técnica realizados por ambos.

Há profissionais que trabalham com perícias judiciais, elaboração de laudos, documentos e treinamentos em corporações. Por conta dessa medida de restrição, engenheiros ficaram por um tempo parados, embora algumas atividades, hoje com a questão dos agentes biológicos, por exemplo, tenham aberto portas”, comenta a conselheira do Crea-PR.

Grasielle Adriane Toscan Lorencetti, Engenheira de Segurança do Trabalho e Engenheira Florestal, é inspetora do Crea-PR, em Pato Branco. Ela revela que os profissionais que atuam na Segurança do Trabalho, como os Engenheiros, têm sido mais requisitados. “São eles os responsáveis pela intermediação entre os colaboradores e as equipes de Saúde, especialmente em empresas de maior porte. Com a pandemia, as demandas aumentaram, as fiscalizações foram intensificadas”, relata Grasielle. A Engenheira destaca ainda outro fator do cenário pandêmico, as sequelas em pessoas que tiveram Covid. “Além do estresse psicológico, o coronavírus tem deixado consequências físicas. Há vários relatos de pessoas com déficit de atenção, falta de concentração e perda de memória. Em atividades de maior risco, são riscos à segurança delas e dos demais colaboradores”, observa. Grasielle acrescenta que o alto índice de casos de Covid-19, também desfalcou o quadro de funcionários de muitas empresas e indústrias, causando sobrecarga de funções. “Com os afastamentos, por conta do isolamento, e a consequente redução de pessoas nas equipes, houve acúmulo de trabalho. É outro fator que pode acarretar em acidentes de trabalho”, completa.

Pesquisa aponta maiores riscos de acidente por dia e horário

Uma pesquisa realizada em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, traçou um perfil dos acidentes de trabalho ocorridos entre os anos de 2019 e 2020. O levantamento foi feito pelo Engenheiro de Segurança do Trabalho, Engenheiro Civil e Coordenador Regional dos Inspetores da regional do Crea-PR em Ponta Grossa, José Aparecido Leal.

Para a conclusão, foram analisados dados de atendimento do 2º Grupamento do Corpo de Bombeiros e Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Setor de Epidemia da Prefeitura de Ponta Grossa. Em 2020, houve aumento de 122% nos acidentes de trabalho, em comparação ao ano anterior. Para Leal, a principal causa do aumento é a saúde mental abalada dos trabalhadores em virtude da pandemia. “Quem não parou de trabalhar, precisou fazer isso com o psicológico abalado e, com isso, aumentou o risco de acidentes de trabalho”, explica.

Ainda conforme a pesquisa, o dia da semana com maior índice de acidentes é a quarta, com 19,48%, seguido da quinta-feira, com 18%. A maioria dos acidentes aconteceu das 8h às 10h. A segunda faixa de horário com maior risco foi das 14h às 16h. “Geralmente, as pessoas trabalham de segunda a sexta e folgam no sábado e domingo. Na segunda, o trabalhador volta motivado pelo descanso do final de semana, ou seja, a percepção do risco de acidente é maior. Na quarta, o trabalhador reduz a atenção, pois ainda está longe do final de semana. Daí, vêm os acidentes”, afirma.

Em relação à parte do corpo, em todas as ocorrências com acidentes, 42%, foram nas mãos e membros superiores. Em 92% dos casos, as vítimas eram do sexo masculino. “Os acidentes acontecem quando a prevenção falha, por isso, a análise é ferramenta de importância vital para a identificação de causas e ações corretivas para evitá-las ou repeti-las. Diante disso, é preciso que as empresas tomem atitudes proativas no dia a dia, em busca da redução dos acidentes de forma contínua, bem como no aumento da cultura comportamental preventiva dos funcionários”, finaliza.


Comentários

  1. JOSE CARLOS MORETES says:

    As estatísticas estão ai e os números não mentem, mas tem um pano de fundo que vai marcar essa geração toda , que são as doenças ocupacionais desenvolvidas a partir deste ano seja pelo corona vírus ou pelo relaxamento nas políticas de saúde e segurança do trabalho ocorridas a partir da Medida Provisória nº 927, e isso só será sentida daqui 20 a 30 anos é um retrocesso de 3 anos onde tínhamos uma geração toda doente contaminada por chumbo e asbesto na fila da previdência . A Omissão da União e o sucateamento das delegacias Regionais do trabalho a delegação das suas funções para os municípios, vai levar nossa população de trabalhadores num espaço pequeno de tempo para uma condição análoga de escravidão , quem fiscaliza é a prefeitura , que não tem técnicos habilitados e qualificados para o exercício da função , na maioria são leigos em SESMT, e o pior ainda as empresas maiores com poder local não serão fiscalizadas para evitar desgaste político e ate represália na hora da eleição. E ai entra a conivência do poder local os acidentes voltarão a acontecer e as doenças ocupacionais voltarão a fazer vitimas ao longo do tempo .

  2. Graziela says:

    Muito interessante é importante a reflexão : a pandemia influenciar inclusive os que ainda trabalham .
    Isto mostra a importância da gestão do ser humano no processo do trabalho por mais que tenhamos um mundo digital .

  3. José Aparecido Leal says:

    Muito interessante a reportagem num todo.

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