Eleições: a engenharia e o desenvolvimento tecnológico a favor da segurança de dados
A garantia da segurança de dados relativos ao processo eleitoral é um dos desafios da Justiça Eleitoral neste ano23 de setembro de 2022, às 16h36 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos
O Brasil, atualmente, encara um período eleitoral mais consciente da presença e impacto da tecnologia nas decisões e campanhas eleitorais, do que aqueles vividos em 2018 e 2014. Este ano, o país tem a oportunidade e desafio de realizar uma eleição preparada para lidar com os benefícios e malefícios da tecnologia, como fake news e social bots, graças ao desenvolvimento tecnológico, modernização de ferramentas e processos, inteligência artificial e aos avanços na área de segurança de dados.
Tudo isso, partiu do processo de reconhecer e modernizar a atuação profissional e as ferramentas envolvidas. Segundo a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, em 2016, 49% dos brasileiros usaram a internet como fonte de informação. Já na pesquisa coordenada pela Fundação Getúlio Vargas, foram analisadas as discussões no Twitter durante o último debate eleitoral da TV Globo para Presidência da República nas eleições de 2014. Durante o primeiro turno, 6,29% das interações foram feitas por social bots, ou seja, perfis controlados por softwares, que criaram uma massificação de posts para manipular e conduzir as discussões nas redes sociais. A pesquisa apontou que, no segundo turno, a proliferação de social bots foi ainda maior, representando 11% dos posts.
Com os dados apresentando claramente o caminho ao qual seguia os rumos eleitorais do país, onde a inteligência artificial, as novas tecnologias e relações digitais guiavam fortemente os rumos das eleições, é claro à sociedade que hoje o maior desafio eleitoral vivido é garantir a segurança de dados relativos aos processos feitos pela Justiça Eleitoral, de modo que as manipulações tecnológicas que invadem as redes, não cheguem aos mecanismos e sistemas responsáveis pelo recebimento, apuração e divulgação dos resultados eleitorais.
Nesse sentido, o olhar consciente sobre a importância de profissionais e métodos qualificados se faz não apenas presente, mas indispensável. A urna eletrônica, por exemplo, é resultado da dedicação coletiva de profissionais altamente capacitados, não apenas da Justiça Eleitoral, mas também de outros órgãos do governo brasileiro, tais como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Exército, a Aeronáutica (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), a Marinha e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). Nessas equipes, a presença de um profissional de engenharia é estratégica e essencial.
Lucas Dias Hiera Sampaio é Doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP (2015) e atua nas áreas de telecomunicações e segurança em redes de computadores. Desde 2016, é também professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Para ele, é notório a importância da participação dos profissionais engenheiros nesse processo tão essencial da democracia brasileira. “A importância da engenharia na criação de novas tecnologias acredito ser indiscutível. Neste sentido, os profissionais da área são fundamentais, seja criando novas ferramentas, técnicas, metodologias, plataformas, protocolos ou produtos a serem utilizados no processo eleitoral ou então como responsável pelos testes dentro dos testes públicos de segurança (TPS) organizados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”, ponderou.
Foram essas evoluções que permitiram que erros cometidos em outros processos eleitorais, anteriores à urna eletrônica, fossem combatidos, tais como fraudes durante a preparação das urnas de lona, no transporte delas até a Seção Eleitoral por meio de roubo ou substituição, na apuração manual dos resultados, entre outros.
Para o doutor, do ponto de vista técnico, o avanço no nível de segurança desse processo é inquestionável. “Uma vez que segurança não é um conceito binário devemos comparar diferentes soluções para indicar qual é a mais segura naquela comparação. Dito isto, comparando o sistema utilizado atualmente nas eleições com àqueles adotados antes de 1996, não podemos negar a superioridade, em termos de segurança, do sistema atual. De forma semelhante, a urna atual é mais segura que a primeira urna utilizada em 1996”, pontuou.
Nos últimos anos, a modernização de processos para cargos eletivos têm encontrado cada vez mais espaços em instituições diversas. A adesão do Sistema Crea/Confea ao método de eleições online, pela primeira vez em sua história, é um exemplo disso. Segundo Lucas, esse é um movimento que pode ser considerado positivo, no sentido de confiança nos processos e métodos desenvolvidos atualmente. “Dos sistemas de votação mais simples e com menor público até os mais complexos e com maior público, o desenvolvimento de novas tecnologias é fundamental tanto para tornar viável a execução de eleições de forma digital como também aprimorar a forma como fazemos hoje estas eleições”. Quanto ao dinamismo e preparação profissional, o professor destaca a necessidade constante de aprimoramento. “Vale ressaltar aqui que segurança é uma área em constante mudança e atualização – as descobertas são quase que diárias – e portanto quem está na área precisa acompanhar o cenário”, completou.
Influência da Inteligência Artificial nos processos eleitorais
Com o intuito de usar a tecnologia e os avanços desse meio à favor da democracia, já existem iniciativas de entidades e empresas que trabalham contra a desinformação no ambiente online. Um exemplo disso é o painel do Fórum da Internet no Brasil sobre o uso de inteligência artificial para combater desinformação em contextos eleitorais, que demonstrou que a Meta (antigo Facebook) tem mais de 90% de conteúdos danosos identificados por inteligência artificial. Assim sendo, o medo do novo e do desconhecido a partir do que a Inteligência Artificial pode fazer, deve ser combatido e substituído pela ótica de iniciativas e benefícios que já podem ser vistos no Brasil.
Atualmente, tanto a imprensa quanto a população em geral, devem fazer uso das tecnologias para averiguar informações e analisar conteúdos, sobretudo aqueles direcionados à escolha do voto. No Brasil, o PegaBot, um software que estima a probabilidade de aquele perfil social ser um social bot e, desse modo, ter seu discurso manipulado com determinado propósito, é um exemplo positivo do meio.
Para além das ferramentas disponíveis, o bom e velho cuidado no meio online ainda é valioso. Para leigos e leigas desse ambiente virtual, o professor Lucas aponta dois valores como primordiais:
- Desconfiança: Precisamos lembrar daqueles que nos ensinaram quando crianças a não conversar com estranhos, nem aceitar doces. Seja na internet ou no telefone, uma das armas mais poderosas contra golpes e artimanhas que usam da engenharia social é desconfiar do interlocutor até que seja possível confirmar que o mesmo é legítimo. Nunca passe ou confirme nenhuma informação sua sem antes verificar a identidade da pessoa do outro lado. Teus dados pessoais podem ter vazado em algum momento e a pessoa pode te intimidar apresentando-os para legitimar a conversa: independente disso, desconfie e aja com cautela.
- Criatividade: Tenha o costume de criar senhas difíceis que vão impedir terceiros de roubar facilmente suas credenciais: use caracteres especiais, letras maiúsculas e minúsculas, números e evite senhas pequenas com menos de 10 caracteres. Outro ponto importante é evitar, a todo custo, incluir nas senhas informações sobre nós mesmos que podem ser obtidas online.
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Nádia Moccelin
Assessora de imprensa – Crea-PR Regional de Guarapuava
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